segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Jujubas, gel e “róque em rou”


O rock n roll sempre foi sinônimo de insatisfação, diversão, rebeldia. O rock, além de ser o segmento musical que tem mais envolvimento social do que qualquer outro, também sempre foi o grito de indignação de gerações e mais gerações de jovens. Se traçarmos uma linha do tempo, veremos grandes movimentos de contestação calcados no rock e em suas mais variadas vertentes. Desde Elvis Presley, passando pelos anos 1960 de Bob Dylan, o auge dos Rolling Stones nas décadas de 1970 e 1980, o punk rock que chocou o mundo até mais recentemente o grunge de Seattle.

Nem todos esses movimentos tinham preocupações sociais e políticas, mas todos incentivavam o jovem a de alguma forma escancarar sua indignação, questionar. Era uma maneira de desenvolver o senso crítico, e as grandes bandas de rock sempre transmitiram mensagens, não só por meio de sua música, mas também por meio de suas atitudes, seu vocabulário, suas visões de mundo ou simplesmente seu modo de se vestir.

Quem é da geração dos anos 1950, 1960 e 1970 tem muita história pra contar, são pessoas que foram contemporâneas de Rolling Stones, Beatles, The Clash, Led Zeppelin e de festivais como Woodstock. Quem viveu sua juventude durante os anos 1980 e 1990 viveu a época de Nirvana, de IRA!, Plebe Rude, Legião Urbana. E a geração de hoje? Que histórias vão contar para seus filhos? De quais bandas vão se lembrar, e dizer lá na frente “tal banda, tal música, mudou minha vida”.

Uma olhada na cena rock, não só a brasileira como também a mundial, nos mostra um cenário realmente diferente em se tratando de rock. Alguns conceitos mudaram bastante. Hoje em dia é raro ver bandas, principalmente as que estão começando, com proposta e letras de cunho político. O que vemos em grande quantidade são bandas com letras vazias, normalmente se lamentando pela garota que se foi, riffs e acordes pra lá de parecidos, integrantes com cabelos milimetricamente desarrumados. Não há preocupação social, não há mais polêmica, não há mais aquele impacto que muitas bandas de rock causaram nas décadas passadas.

Até o comportamento dos músicos e fãs mudaram. Os rockstars de hoje não causam polêmica, são os bons moços do rock, são os genros que todas as mães sonharam para suas filhas. Nada contra, isso pode ser uma “nova tendência”, porque não? Mas isso é rock n roll, como muitos gostam de dizer que é? O modo como as bandas e os fãs se vestem, inclusive, é para tentar passar a idéia de que “eu sou desleixado, eu ando de qualquer jeito, eu faço meu estilo”. Seria, se esses jovens não passassem três horas em frente ao espelho desgrenhando os cabelos e entupindo-o de gel para deixá-lo “desarrumado”, não escolhessem a dedo suas camisetas e bonés de grife. É uma espécie de comercialização de uma idéia. Os jovens se vestem assim por acreditarem que isso é causar impacto, é ser diferente, sem notarem que isso virou um padrão que os tornam todos iguais.


Tudo bem, até certo ponto é normal essa preocupação com a imagem. Nos anos 1970/1980 tivemos a expansão do chamado glam rock (ou glitter rock), onde as bandas se maquiavam e vestiam roupas extravagantes. Mas era algo para chocar, chamar a atenção e romper com certos padrões. Era até usado como um trunfo comercial em alguns casos, mas a intenção não era, de forma nenhuma, se vestir desse ou daquele jeito porque era a tendência ou a moda da época. É absolutamente normal também que quem tem uma banda queira se aproveitar disso para se aproximar do público feminino, essa é, inclusive, uma marca registrada de muitas estrelas do rock: o relacionamento, quase sempre conturbado, com belas mulheres. Mas se antes ser um rockstar era ser encrenqueiro, rude, não dar atenção nem ouvidos para ninguém, se vestir de maneira diferente, hoje em dia a tendência é ser bom moço, ter um rosto angelical e cantar versos melosos.


É interessante observar que bandas desse tipo são as que mais fazem sucesso hoje em dia, e, se isso acontece, é porque existe público pra esse tipo de som. Estaria a juventude, em pleno século 21, mais conservadora? Os anos 1960 foram marcados pelos grandes movimentos jovens, enquanto hoje em dia a maioria dos jovens se contenta com músicas e bandas geradas a partir de uma fórmula, feitas para vender, para parecer “cool”.

Grandes bandas de rock surgiram cantando o mundo que as rodeava, e todo o seu contexto na época. Criticando, debochando, analisando ou simplesmente relatando aquilo que acontecia. A indústria musical sempre trabalhou com tendências, o que é óbvio, já que se trata de um mercado. Mas hoje em dia, a impressão que dá é que essa característica se acentuou. O que as bandas tem a dizer fica em segundo plano, não importa o quão boa ela seja, se a sua proposta não for a “tendência do mercado no momento”. Em determinada época, a tendência é falar de amores que não deram certo, em outra é lançar bandas com os integrantes que parecem bonecos de ação dentro da caixa, em outra, bandas pseudo-rebeldes.

Não há mais a preocupação da maioria das bandas em fazer da sua música uma forma de protesto ou mesmo um meio para passar uma mensagem com conteúdo para seu público, algo que acrescente algo na vida dele ou que desperte seu interesse para outras coisas. Em parte, porque também não há interesse de grande parte da indústria fonográfica em promover bandas assim. São as tais das tendências, que pautam essas escolhas. E enquanto existir público para esse tipo de música, essa tendência prosseguirá. Essa é a grande frustração. Ver como a maioria dos jovens de hoje se entregam a esse tipo de música inócua, descartável, enlatada, sem nada a dizer.


A questão não é dizer que essas novas bandas e seus fãs estão errados ou certos. Existem milhares de segmentos, estilos e vertentes de todo tipo de música. A questão é dizer que essas bandas fazem rock n’ roll, que têm atitude, que fazem algo realmente bom, novo e impactante. Quem viveu as décadas citadas acima deve ter náuseas ao ouvir o “rock” que é feito hoje. Para a maioria dos jovens, as “grandes bandas” do momento são NX Zero, Jonas Brothers, My Chemical Romance, Cine e outras do mesmo tipo que lotam estádios e arenas. Resta saber se elas são apenas as bandas do momento, ou se vão ser definitivamente as bandas símbolos de uma geração.

Nota do blogueiro: Sim, o texto está num formato bem maior para um blog, mas eu o escrevi para uma revista digital há um tempo, e resolvi republica-lo neste espaço agora, com novos links. Se você chegou até aqui, parabéns pela coragem, e espero que tenha gostado da leitura.


3 comentários:

Daniel Silva disse...

E aí, amigo.

Eu li o texto todo e concordo com quase tudo que você escreveu. O rock hoje ainda tem boas e novas bandas, é só procurar bastante que a gente acha. Lá fora, principalmente no heayv metal, tem muita banda boa, tipo o Mastodon. Temos o Dirty Sweet e Wolfmother, mais rock and roll.. Aqui no Brasil tem Macaco Bong.. e por aí vai.

Long live rock and roll!

abraço

Thiago Capodeferro disse...

Grande Daniel! Concordo com você neste sentido, existe muita banda boa mesmo por ai. Pra falar só a nível de Brasil, tem Terminal Guadalupe, Nitrominds, Fistt, Leptospirose, fora as gringas, que também vai uma extensa lista. Me referi mais as bandas com maior espaço na mídia, com clip bombando na MTV, aquelas todas iguais que tentam (só tentam) passar a idéia de que fazem rock n roll.

Daniel Silva disse...

é, se a gente for depender de pitty e o resto, estamos fodidos. o rock não é aquilo que a mtv tentar impor tipo os panic at the disco da vida.

abraço