sexta-feira, 26 de junho de 2009

O homem por trás de 300 e Watchmen


Há uma nova geração de diretores mostrando as caras em Hollywood. Gente como o mexicano Alejandro González Inárritu (Amores Brutos, Babel) tem trazido novas idéias para a meca do cinema. Quem tem se destacado também é o norte-americano Zack Snyder, que começou sua carreira como diretor de video-clipes e peças publicitárias. Em 2004, Snyder resolveu migrar para o cinema, começando uma carreira que está em franco crescimento.

Seu primeiro trabalho foi de grande responsabilidade; refilmar o clássico do cinema B americano Despertar dos Mortos, do mestre do gênero George A. Romero. Responsabilidade sim, pois as tentativas anteriores de Hollywood de refilmar Romero haviam se revelado um fracasso (excessão feita à Extermínio, outra produção recente sobre mortos-vivos). A versão de Zack Snyder, chamada Madrugada dos Mortos, foi um sucesso de público e crítica. Snyder soube dar ao filme uma narrativa ágil, aliada a um visual bastante moderno e boas sacadas.

Mas foi em seu segundo trabalho que o diretor ganhou destaque de vez. Ele assina a direção da adaptação para o cinema da clássica graphic novel de Frank Miller, 300 - Os 300 de Esparta. O filme trouxe uma grande inovação visual, cada enquedramento parece tirado diretamente das páginas da obra original. O enredo também foi seguido à risca, o que agradou os fãs mais antigos. A presença de Frank Miller na produção do filme também ajudou para que o resultado fosse o mais fiel possível à obra original. O sucesso do filme foi tão grande, que já se fala na imprensa em uma continuação para a saga.

Com a boa reputação que conquistou com esses dois filmes e com seu trabalho em alta, Zack Snyder aceitou um grande desafio. Adaptar para os cinemas outro clássico do mundo dos quadrinhos: Watchmen, de Alan Moore. Era um grande desafio pois o universo de Watchmen é totalmente denso, e, segundo a maioria dos fãs, impossível de ser adaptado em outra mídia como o cinema (opinião esta do próprio Alan Moore, famoso por ser radicalmente contra adaptações de obras dos quadrinhos para o cinema).

A Nova Vitrola ainda não assistiu Watchmen, mas a julgar pelas críticas que o filme recbeu desde o lançamento, Zack Snyder parece que acertou a mão novamente. Apesar de ter dividido a crítica e o público, o filme mantém, dentro do possível, a atmosfera sombria dos quadrinhos. O próprio Alan Moore, histórico turrão, disse que, apesar de reprovar o filme, o roteiro (que ele chegou a ler, por insistência de Snyder), era o mais próximo que se podia chegar da obra original.

Recentemente, Zack Snyder comentou para o site Omelete seus próximos trabalhos: fique de olho nesse nome.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A síndrome das autoridades brasileiras


As autoridades brasileiras sofrem de uma síndrome. É a síndrome de querer mostrar para os outros países que o Brasil "é capaz"; capaz disso, capaz daquilo, capaz de fazer aquilo outro.

As vésperas do pan-americano de 2007, que aconteceu no Rio de Janeiro, os organizadores não se cansavam de dizer "nós vamos mostrar ao mundo que o Brasil é capaz de organizar um evento desse porte." Agora, conforme a Copa de 2014 se aproxima, essa síndrome ataca de novo. É só ligar a tv ou abrir um jornal e pronto, lá estão as declarações: "O Brasil vai mostrar que pode reformar seus estádios no prazo", "vai mostrar que o povo brasileiro pode organizar uma Copa".

Ora, o Brasil não tem que provar nada aos comissários da FIFA, à imprensa internacional ou a quem quer seja. O Brasil tem que provar algo ao seu povo. Tem que mostrar a ele que pode ser um país em crescimento, que tem condições de melhorar a vida de quem vive por aqui. Mas não, no momento todos os esforços (e dinheiro) estão voltados para a Copa de 2014 e à imagem do Brasil perante os olhos estrangeiros.

Mesmo que a copa gere alguns empregos, atraia gente para o país, movimente de certa forma a economia, é notório que o Brasil tem situações mais urgentes a resolver. Todo o dinheiro (público ou não) que será despejado para organizar uma Copa do Mundo poderia ser melhor empregado em outras áreas mais urgentes.

O próprio futebol brasileiro está falido. Os clubes nacionais sobrevivem da venda de jogadores para o exterior, poucos não atrasam salários e têm estádios com mínimas condições de receber um jogo qualquer. Torcidas organizadas vivem se pegando, tanto dentro quanto fora dos estádios, gente morre a cada grande clássico por ai, arquibancadas de estádios desabam. Os cartolas e autoridades do nosso futebol não conseguem resolver esses problemas, ficam impotentes diante deles. Antes de organizar uma Copa do Mundo por aqui, é necessário primeiro estruturar o futebol nacional.

Isso sem mencionar os outros milhares de problemas que todos os brasileiros vivem todos os dias. Antes de se preocupar em "mostrar para o mundo que o Brasil é capaz de organizar uma Copa do Mundo", ou qualquer outro evento que seja, as autoridades e governantes brasileiros deveriam mostrar para o seu povo que são capazes de cuidar do próprio país primeiro.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Diploma pra quê?


Desde que entrei na faculdade para cursar jornalismo já ouvi milhares de teorias sobre a obrigatoriedade ou não de ter diploma para exercer essa profissão. Na última semana, o Excelentíssimo Senhor Doutor Gilmar Mendes e o STF decidiram que não, não é preciso de diploma para ser jornalista.

Segundo o Exmo. Sr. Dr. Gilmar Mendes, "notícias inverídicas são grave desvio da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional." Com toda a certeza, é difícil um profissional fazer bom jornalismo sem ter um bom caráter/índole. Afinal, lidar com informação é uma grande responsabilidade. Mas isso só acontece com o jornalismo? Então um magistrado envolvido em escândalos também não precisaria de diploma, já que também não conseguiria resolver suas questões de caráter na faculdade. Ou essa regra só vale para os profissionais do jornalismo?

Argumentos rasos é o que mais se ouve nesta questão desde que a decisão saiu. É inegável que existem bons profissionais já no mercado que não possuem diploma, eu mesmo leio alguns articulistas que não são jornalistas formados, e eles não deixam de ser bons por isso, da mesma forma que existe muito jornalista medíocre formado, com o diploma na mão.

A questão é que quem está no mercado, para o bem ou para o mal, já tem certa experiência. Mas e os que estão ingressando agora? Que suporte vão ter? É no curso superior que o profissional vai se aperfeiçoar, ganhar mais bagagem, conhecimento; não só nas aulas, mas também no convívio com outras pessoas, na troca de idéias. Ainda que muita gente entre numa faculdade apenas visando o diploma e nada mais, no meio do caminho algumas podem passar a se interessar mais. A faculdade funciona como um filtro, se uma pessoa não tem compromisso com a importância da profissão, ela não vai encarar quatro, cinco anos de estudo.

Da mesma forma que ter um diploma não muda o caráter de ninguém, saber o português correto e escrever bem não basta para ser jornalista, e isso só quem está no meio sabe como é. Ser crítico, curioso, ter uma boa intuição e criatividade são algumas das caracerísticas imprescindíveis para um jornalista. Como diria um professor meu, se você está numa faculdade de jornalismo só porque escreve bem, está no lugar errado.

Com essa decisão do STF, o nível da imprensa brasileira, que em muitos casos já é baixo, vai cair ainda mais. Principalmente se qualquer pessoa que sabe onde vai uma vírgula resolver lidar com informação para as massas. Se não muda caráter, curso superior, seja ele qual for, ao menos desperta a vontade de aprender mais e mais nas pessoas, principalmente nos mais jovens.

Já temos muitos profissionais que falam o que querem nos meios de comunicação; sensacionalistas, piegas, irresponsáveis que tratam informação como um produto para ter lucro, sem se importar com as consequências. Não exigir que as pessoas se preparem para exercer a profissão de jornalista é encorajar que mais pessoas desse tipo contaminem a imprensa. É encorajar que cada vez mais as pessoas com desvios de caráter e despreparadas formem opinião todos os dias.