segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mudar é preciso



Mudança é uma palavra que assusta. Toda mudança vem para acabar com muitas certezas, para impor uma nova rotina, para ensinar algo novo. Às vezes, a gente a procura, a almeja, parte de nós. Às vezes não queremos, mas somos forçados a mudar: de casa, de emprego, de carro, de rotina ou de ambiente.

O fato é que toda mudança vem para ensinar, nos tirar da nossa zona de conforto. E é exatamente ai que a gente cresce, como pessoa ou como profissional. O novo é algo que assusta mesmo, mas, ao doma-lo, você se torna uma pessoa melhor.

Mudei de casa recentemente e, ao revirar o fundo do armário para encaixotar as coisas, fiz sem querer uma retrospectiva dos últimos 5 anos. Cresci muito durante eles, passei por momentos bons, momentos difíceis, momentos compensadores.

Ao olhar para trás, vi que não sou mais a mesma pessoa. E que vivi, durante esses 5 anos, uma fase que foi boa, difícil em alguns momentos, mas necessária. E ai você percebe que as partes difíceis e os erros e cicatrizes são aprendizados, marcas que ensinam, e que mesmo os bons momentos muitas vezes não podem ser revividos, mas sim guardados como boas lembranças.

Há um longo caminho a frente. Olhar na direção dele, caminhar para o que virá, encarar a mudança como uma coisa boa é o melhor que temos a fazer. Se desapegar de um passado que, mesmo bom e repleto de boas lembranças, já cumpriu a sua missão, só nos prende e nos impede de enxergar tudo de bom que a vida nos oferece hoje.

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa). 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

As músicas da sua vida

Estar presente num show de uma banda que você gosta muito é algo único, principalmente se você é viciado em música e faz dela parte da sua vida. A sensação de estar ali presente, cantando os sons que você cansou de ouvir quando estava triste, feliz, dirigindo ou com aquela pessoa especial é única.

Não importa se é um festival mainstream como o Lollapalooza, o Rock in Rio ou se é um bar com 10 pessoas que colaram no som. Tudo depende do que te motiva a ir até lá, cantar feito um doido, conhecer pessoas que estão ali pelo mesmo motivo que você.

Tenho umas cinco ou seis bandas que significam muito pra mim, caras que eu escuto há coisa de 10 anos ou mais. O Foo Fighters é uma dessas bandas.


O FF pode ser dividido em duas fases: até o terceiro disco, There is Nothing Left to Lose, era apenas uma banda promissora. Tanto que tocou no Rock in Rio 3, em 2001, como uma atração secundária. Após esse disco, Dave Grohl e companhia ganharam o status de super banda, emplacando durante os últimos 10 anos discos de sucesso e hits como Times Like These, All My Life, Best of You,Walk, Wheels. Assim, também é normal que os fãs da banda sejam divididos entre essas duas fases.

Mas, deixando de lado a chata discussão de "fã velho" x "fã antigo", estar num show que você esperou anos para colar é algo único. A cada som, um pedaço da sua vida passa pela sua cabeça. Durante aquelas horas, você relembra histórias, lembra de trechos que talvez tenham ajudado a mudar a sua história, a tomar uma decisão difícil, pequenos versos que dizem o que você não conseguiria em mil palavras.

Eu cresci ouvindo Foo Fighters, e foi assim que me senti no show deles. Tenho os 3 primeiros cds. Cd mesmo, aquela coisa redonda e espelhada que hoje está tão ultrapassada. Ganhei quando era moleque, entre o final dos anos 90 e o início desse século e guardo até hoje com carinho aqui.

Particularmente, fiquei sem reação quando rolou Hey Johnny Park!, um som um tanto quanto desconhecido deles perto de outros mega hits da banda, e que raramente entra no set list. Um som que significa muito pra mim. Não esperava, cantei a plenos pulmões, como já fiz tantas outras vezes nos últimos anos, sozinho no meu quarto ou dirigindo de volta pra casa numa noite gelada.

Não sou fã de festivais como o Lollapalooza. O preço é alto, a organização e logística nem sempre são bem planejadas e o fã que ama música e as bandas que vão tocar acaba tendo que pagar uma conta injusta. Quase R$ 10 numa cerveja quente e num hambúrguer industrializado ou R$ 100 numa corrida de táxi que normalmente custaria, sei lá, R$ 30.

Ok, o fã fará isso com um sorriso no rosto, afinal, ele está ali realizando um sonho. Mas que não deveria ser assim, isso não deveria.

Vi muitas discussões sobre isso nos últimos dias. Sobre o lance de pagar R$ 300 num mega evento e não pagar R$ 10 para ver uma banda iniciante. Concordo que apoiar a cena local da sua cidade e incentivar bandas que estão começando é super importante, mas também não vejo crime em colar num Lollapalooza da vida, se a banda que significa muito pra você for tocar lá.

Fiquei em êxtase no show do Foo Fighters como já fiquei em shows de outras bandas que me dizem muito onde tinham até menos de 10 pessoas na plateia.

De novo: acho que tudo depende do que te motiva a sair de casa e ir enfrentar a multidão no festival mainstream ou uma noite fria com uns trocados no bolso para ver uma banda num PUB distante: o motivo é paixão, é estar ali, olhar pra banda e pensar "esses caras me influenciaram pra caralho", e não simplesmente colar no rolê por que ele está na mídia e por que "todo mundo vai, então eu tenho que ir também".

Sempre vai ter em algum canto alguém cantando aqueles versos que marcaram a sua vida em algum momento. Apenas vá até lá e curta tudo o que puder.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O moleque que bate bola sozinho com a parede

Em cada rua de bairros mundo afora é possível ver um moleque jogando bola. Normalmente sozinho, batendo bola com a parede, solitário, mas ainda sim feliz, se divertindo num mundo só dele.

Todos nós já fomos esse moleque um dia, nos contentávamos com coisas simples. Não era preciso muito para ser feliz, afinal.

O moleque que bate bola sozinho com a parede é assim. Ali ele é o Cristiano Ronaldo, o Messi, o Kaká, quem ele quiser. Não há quem diga a ele para bater na bola de bico ou de chapa. Para fazer assim ou assado.

O moleque que bate bola sozinho com a parede não sofre cobranças, nem tem tantas responsabilidades. Não precisa correr para cumprir prazos, promessas, metas. Ele não se preocupa com status, em mentir ou em desdenhar e pisar nos outros para ter destaque ou conseguir o que quer.

O moleque que bate bola sozinho com a parede não reclama que precisa de uma casa maior, um carro mais veloz, um iPad, um iPhone, um Playstation 3, um computador de última geração, um som potente.

Ele não passa o dia reclamando da sua vida, reclamando do seu emprego, da sua família, dos seus amigos, da falta de grana, da falta de sorte. Ele também não se preocupa em fingir ser quem não é só para fazer tipo.

Reclamar da vida, mesmo que ela não seja tão ruim assim, virou um hábito. Se você tiver um celular, vai reclamar por que quer um smatphone. Se você tiver um 1.0, vai reclamar que quer um carro mais potente. E assim vai. Esquecemos de dar valor ao que realmente temos, às pequenas coisas que podem não parecer muito, mas são fundamentais.

Resta pouco, ou quase nada, do moleque que bate bola sozinho com a parede dentro de nós.