A história sempre segue o mesmo roteiro: uma banda começa a se destacar no cenário independente e chama a atenção da grande indústria musical. Não demora e aparece uma gravadora com uma boa proposta, a banda em questão aceita e assina um contrato. Ao fazer isso, ela vira uma traidora do movimento, certo?
Não. Ou melhor, nem sempre. Assinar com uma gravadora não significa que uma banda e todos os seus integrantes fizeram um pacto com o demo e agora terão que ser odiados para sempre. Tudo depende do que se entende por "banda independente". É aquela que grava e vende os seus discos por conta própria? Aquela que nunca toca na MTV? Aquela que só faz show para pequenos públicos?
Acredito que não seja só isso. Banda independente também pode ser considerada aquela que faz o seu som sem querer agradar esse ou aquele, sem se importar se vai vender ou não, se vai fazer sucesso ou não. Não vejo mal em uma banda assinar com uma gravadora, desde que ela não mude o seu som por causa disso. Não deixe a gravadora interfir no som com o intuito de deixa-lo mais "comercial".
Veja o Dead Fish por exemplo. Em 2004 assinou com a Deckdisc, e lançou o cd Zero e um. A sonoridade da banda não só continuou a mesma, como o Zero e um é um dos melhores discos dos caras, no nível de clássicos como Afasia por exemplo
Tudo depende da proposta. Se for visando apenas oferecer mais estrutura para uma banda independente trabalhar, sem interferir no som dela, é válido. Mas se for visando apenas transformar a banda em produto, com músicas e letras cheias de clichês e de lugares comuns, feitas apenas para entreter alguns pré-adolescentes que não têm nada na cabeça, ai já é condenável.
Fico incomodado quando uma banda que eu escuto há muito tempo estoura e ganha mais visibilidade? Claro que sim. Mas nem por isso posso sair por ai criticando sem analisar direito a situação. Música transmite muito mais do que notas e acordes, transmite também idéias e mensagens. O lance é não mudar a proposta do som para atender os interesses comerciais.