Quem frequenta estádios de futebol em jogos de divisões menores está acostumado a se deparar com muitos personagens folclóricos. Seja o ambulante que tem uma maneira peculiar de vender, ou os torcedores símbolos que também torcem de uma maneira a parte. Mas essas ocasiões reservam também cenas e personagens tocantes e marcantes.
Eu frequento jogos da série B do futebol brasileiro há um tempo razoável, e esse ano não foi fácil neste sentido. O Bragantino, time da minha cidade, se manteve na segunda divisão na marra, se garantindo só na última rodada. Para a maioria das pessoas - mesmo as que gostam de futebol, isso não é um fato lá muito importante.
No decorrer da campanha, quando o time estava 12 pontos atrás da última equipe fora a zona de rebaixamento para a série C, apenas alguns doidos varridos se aventuravam a ir ao estádio enfrentar chuva e baixas temperaturas para ver um time esfacelado em campo.
Quem se dispõe a fazer isso é movido por uma paixão que é difícil de explicar, é algo que beira a irracionalidade. É diferente de torcer para um dos times grandes. Quem acompanha - e torce - para times menores, se envolve de uma maneira diferente, cria uma relação mais pessoal com a agremiação.
Num desses jogos, me deparei com um senhorzinho solitário torcendo. Era uma terça-feira a noite, depois das 22hs, não havia nem mil pessoas no estádio. O senhorzinho tinha um olhar triste e solitário. A impressão que me deu é que tratava-se de alguém sem muitos amigos, familiares ou atividades. Alguém que leva uma vida simples, que levava no semblante uma dose de melancolia.
O senhorzinho torcia, solitário. Gritava os nomes dos jogadores com grande esforço, tentava se fazer ouvir em vão. Como todos nós ali torceu, sofreu e xingou. Fim de jogo e ele saiu caminhando, ainda solitário, mas agora com um sorriso no rosto. No jogo que confirmou a permanência do Bragantino na série B ele estava novamente do meu lado, tomando chuva. No apito final todos nós, conhecidos e desconhecidos, nos abraçamos e comemoramos.
O que que quero dizer é que o futebol, ás vezes, é a única válvula de espace para algumas pessoas. O senhorzinho talvez não tenha muitos parentes ou amigos, talvez não saia muito de casa e a impressão que me deu é que o fato de ir ao estádio acompanhar o time da cidade é algo sagrado para ele, algo que o faça sentir vivo, algo em que ele possa colocar a sua emoção, seus pensamentos positivos.
Há uma dose de tristeza e melancolia nisso, mas é uma bela cena que só o futebol é capaz de proporcionar. Isso me lembrou este vídeo abaixo. Nele, um senhor espanhol se emociona com o gol do Málaga que também garantiu o time na primeira divisão espanhola. O gol foi contra o todo poderoso e bilionário Real Madrid. O abraço sincero no menino mostra o alívio, a felicidade, a emoção, a paixão.
Repito: para a maioria das pessoas, mesmo algumas que gostam de futebol, não é nada demais. Amanhã elas acordam e seguem suas vidas normalmente.
Para os dois senhorzinhos acima é tudo: é motivo de alegria, não só por ver o time que amam resistindo a duras penas numa época onde os clubes pequenos são esmagados, mas principalmente por se sentirem parte de algo, por terem um motivo para sorrir e por se sentirem vivos num mundo que parece já ter se esquecido deles há algum tempo.
domingo, 25 de novembro de 2012
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Hasta la Vista, Júnior!
Texto: Thiago Capodeferro
Foto: Francine Romagnoli
Tudo bem? – pergunta o Fistt antes de lançar seu mais novo
álbum de inéditas, Hasta La Vista Júnior. O EP, com 5 músicas grudentas e de
refrões fortes, é o quinto álbum de inéditas dos rapazes de Jundiaí (já são 6
álbuns na carreira, se contarmos o Viva!, disco ao vivo gravado no Black Jack).
Aqui o Fistt mostra a sonoridade que marcou a banda: rapidez
e simplicidade. O disco abre com “Consideração”, e acelera com a segunda faixa
(e primeiro single), “Entre o dia e a noite”, que possui um refrão que ficará
na sua cabeça por dias, talvez semanas. Não se espante se estiver parado no
trânsito ou preso no elevador e se pegar cantarolando os versos da canção, que
conta com a participação de Reynaldo Cruz, da banda Plastic Fire.
“Tudo Bem?” é uma bela canção que fala dos encontros e
desencontros desse negócio maluco que chamamos de amor. Na sequência, “Todo
mundo contra mim”, cover da banda carioca ACK, ícone do underground brasileiro
nos anos 90.
No final tem uma surpresa para quem gosta dos bons e velhos 3
acordes imortalizados por quatro caras cabeludos e magrelos de Nova York. Está
curioso? Baixe o disco pra ouvir!
O Fistt é uma banda que se mantêm fiel ao seu estilo sem se
tornar repetitiva. Em Hasta La Vista Júnior os caras mostram mais uma vez que
não são necessárias firulas nem palavras difíceis para expressar aqueles
sentimentos que nos atingem – e ás vezes afligem - no dia a dia: felicidade,
saudade, decepção, indecisão.
Por isso é tão fácil se identificar com o som da banda. O disco será liberado para download na próxima quinta-feira, 28. Abra
uma cerveja e talvez você encontre muitas respostas nas canções simples e
diretas dos rapazes do Fistt.
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Hélio, seus sonhos e sua coragem. Ou sua loucura?
É uma noite de sexta-feira típica de verão. Muitas pessoas estão se afundando na noite e na cachaça. Eu só quero o silêncio da estrada, olhar para as estrelas no meio do nada e encontrar pessoas queridas, que não vejo há anos.
Enquanto espero o ônibus que me levará 7 anos de volta no tempo, um rapaz me observa. Apreensivo, respiração ofegante, cara de preocupado.
Enquanto espero o ônibus que me levará 7 anos de volta no tempo, um rapaz me observa. Apreensivo, respiração ofegante, cara de preocupado.
- Você vai pra Minas também? – ele me pergunta.
- Vou sim, Juiz de Fora. – respondo sem pensar.
- Está atrasado, não é? Na passagem está marcado 21:25 e até agora nada! – ele observa muito bem.
Lembrei que eu também ficava ansioso dessa mesma maneira quando costumava fazer essa viagem e prontamente acalmo o rapaz, já percebendo que é a primeira vez que ele fará o trajeto.
– Relaxa, bróder, sempre atrasa, fica tranquilo – sentencio.
Hélio se apresenta e começa a me contar a sua história. Conheceu Denise pela internet e está indo ao encontro dela pela primeira vez, já que há dois meses eles só conversam pela internet.
- Liguei lá e a pedi em namoro. A mãe dela não gostou muito, mas é o que eu quero! – diz ele
“Está ai um cara que pensa quase como eu”, falo com meus botões. Noto a quantidade absurda de malas e pergunto quanto tempo ele pretende ficar na cidade. Fico surpreso com a resposta.
- Vou pra ficar, não volto mais, vou me casar com ela, abrir uma lanchonete lá e começar tudo do zero, a minha mãe não gostou, disse que não é mais pra eu voltar, a mãe dela não gostou muito também, mas é o que eu quero! Não volto mais mesmo! – ele volta a repetir.
“Não, ele não pensa como eu, eu não seria tão corajoso, nem tão louco assim”, penso eu e imediatamente já me coloco no meu lugar. Hélio me conta um pouco da vida dele. Trata-se de um rapaz de 21 anos com sonhos tão puros, que chega a ser ingênuo – lembra um certo cara de 7 anos atrás.
Ele me diz com orgulho que não bebe, não fuma e não tem vícios. Que já morou em São Paulo, Bahia e Atibaia e já trabalhou com tudo um pouco para ganhar a vida. Começa a implicar com agumas prostitutas que estão ali perto, igualmente tentanto ganhar a vida, do jeito delas.
- Oferece ali “50 conto” e uma cerveja pra você ver. Eu já quase fiz isso, mas não sou esse tipo de sujeito, sou fiel! – ele diz.
Eu apenas dou risada. Hélio me conta que onde a futura esposa mora tem “muitos maloqueiros que dão em cima ela”, mas ele não liga, pois sabe que ela também é fiel.
– Eu também sou, nem aquelas ali do bar nem nenhuma outra me interessa mais – diz, com um sorriso no rosto.
O ônibus chega e os olhos dele brilham – chegou, finalmente! – ele diz como se fosse uma criança esperando a vez de andar de montanha-russa. Nos separamos por enquanto. Durante a viagem, enquanto passo por cidadezinhas pequenas e simpáticas do sul de Minas, penso como Hélio pode ter coragem de jogar toda uma vida para o alto e recomeçar ao lado de uma pessoa que ele nunca viu pessoalmente a mais de 500 km de casa.
Enquanto olho para o céu estrelado, Mike Ness me diz “vá em frente e levante-se, é um novo dia”, e penso que Hélio está apenas correndo atrás da sua felicidade. Como todos nós fazemos, de certo modo. A diferença é que ele, assim como eu, não liga para o que os outros falam, e vai persegui-la de qualquer maneira.
Depois de algumas horas naquele ambiente começo a reparar nas pessoas. Cada uma está fazendo essa longa viagem por um motivo. Vejo pessoas indo visitar parentes, vejo executivos a trabalho, a moça atrás de mim liga para o namorado a cada 10 minutos sussurrando que está chegando e que está com saudades. “Estarei nos seus braços de manhã, meu amor”, ela diz.
Eu? Eu só quero lembrar que o tempo não apaga verdadeiras amizades e histórias, que às vezes, para algumas pessoas, você é perfeitamente descartável e substituível. Que em questão de dias você pode deixar de ser importante para alguns, mas que, quando você realmente significa algo para alguém, e quando você vive algo verdadeiramente intenso e verdadeiro, o tempo e a distância não podem apagar isso.
Mas nenhum de nós está ali numa missão tão nobre quanto Hélio. À medida que a viagem passa, vejo que pouca coisa mudou durante esses 7 anos. As paisagens, o caminho, as paradas, eu me lembro de tudo, e a cada quilômetro rodado eu volto um pouco no tempo, lembrando do rapaz que eu era, cheio de sonhos, que queria virar historiador, e não jornalista. Sim, a profissão pela qual hoje sou completamente apaixonado era minha segunda opção, uma prova que nem sempre a gente acerta de primeira, e que nem sempre o caminho que a gente sempre acreditou cegamente é o correto.
Mais do que isso, penso na pessoa que me tornei.
O rapaz que tinha ingenuidade demais e cicatrizes de menos cresceu. Aprendeu que o mundo não é um conto de fadas, que as pessoas vão te machucar, às vezes sem querer, e que você vai ter que saber lidar com isso. Aprendeu que nem todos os sonhos são possíveis de realizar. Talvez falte nele hoje um pouco da pureza e ingenuidade do Hélio, mas se tem uma coisa que ele aprendeu foi: nunca se arrependa, sempre faça o que o seu coração manda e o que você acha correto.
Por que, no final, pessoas vêm e vão, e só as importantes ficam na sua vida, mesmo que à distância. O importante é que você marque a vida delas, mesmo daquelas que vão e não voltam. Que você acrescente, traga coisas boas e deixe a sua marca, por menor que seja, durante essa passagem. Muitas vezes talvez você não seja reconhecido por isso, mas não espere algo em troca. Fique em paz com a sua consciência, isso é que é o importante.
Chego ao meu destino. Primeira coisa: café. Estou sedento por um café. Sento no balcão e ao lado um grupo de jovens – dois rapazes e uma menina – comentam sobre as maravilhas do litoral da França. Não presto muita atenção, o litoral da França jamais terá a beleza do lago da minha cidade e das suas capivaras que se misturam ali aos moradores apenas para olhar a vida passar.
É então que reencontro Hélio. Encostado numa parede com cara de assustado, usando uma tomada para carregar seu celular.
- Vou dar um tempo aqui, não quero chegar muito cedo e acordar as pessoas lá, não quero atrapalhar – diz ele, que completa – daria tudo por um café, mas estou com o dinheiro contado – quase me implorando para que pagasse um para ele.
Ora, homem nenhum nesse mundo merece ficar sem um café. Pago um para ele com o maior gosto. Enquanto ele degusta o café preto e quente, vou até o guichê comprar a minha passagem de volta. E penso que a minha aventura por aqui é passageira, que a minha vida e a minha aventura de verdade estão em outro lugar, e que logo terei que voltar para ela, o que me dá certa segurança, afinal. Já Hélio acaba de se prender, talvez sem saber, a este novo lugar e a essas novas pessoas.
Espero que ele se dê bem nessa nova realidade.
Quando volto para o bar, não posso deixar de notar seu rosto. Ele está tenso, preocupado, indo morar com pessoas que nunca viu, se casar com uma mulher que ele diz amar, mas que também nunca viu, para trabalhar numa cidade que não conhece e, para completar, está sem dinheiro.
Isso sim que é começar do zero, isso sim que é coragem. Ou, para alguns, loucura.
Não posso fazer muito mais por ele. Apenas desejo boa sorte, pago seu café e deixo mais alguns trocados para que ele possa ao menos pegar um ônibus até o destino dele. Desejo de novo que tudo corra bem. Ele agradece, pede meu telefone e diz que quando tiver a casinha dele em Juiz de Fora vai me ligar e que será a vez dele me pagar o café.
Essa sim é uma ligação que eu quero receber um dia.
Ainda o vejo mais uma vez, indo até o ponto de ônibus. Olhar perdido, um misto de medo e entusiasmo de quem está se jogando rumo ao desconhecido.
Um café e uns trocados. É o máximo com que pude ajudar Hélio na sua aventura e na sua nova vida. Espero que sirva ao menos como um empurrão. Ele some no meio da multidão, eu subo no meu táxi e vou embora. Boa sorte, garoto!
Por vezes, o maior sinal de que você está fazendo a coisa certa é quando você conta os seus planos para as pessoas e elas dizem “você é louco!” Se te disserem isso, meu amigo, vá em frente, pois você está no caminho certo.
No final, talvez o mundo só precise de mais pessoas corajosas, como o Hélio.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Mudar é preciso
Mudança é uma palavra que assusta. Toda mudança vem para acabar com muitas certezas, para impor uma nova rotina, para ensinar algo novo. Às vezes, a gente a procura, a almeja, parte de nós. Às vezes não queremos, mas somos forçados a mudar: de casa, de emprego, de carro, de rotina ou de ambiente.
O fato é que toda mudança vem para ensinar, nos tirar da nossa zona de conforto. E é exatamente ai que a gente cresce, como pessoa ou como profissional. O novo é algo que assusta mesmo, mas, ao doma-lo, você se torna uma pessoa melhor.
Mudei de casa recentemente e, ao revirar o fundo do armário para encaixotar as coisas, fiz sem querer uma retrospectiva dos últimos 5 anos. Cresci muito durante eles, passei por momentos bons, momentos difíceis, momentos compensadores.
Ao olhar para trás, vi que não sou mais a mesma pessoa. E que vivi, durante esses 5 anos, uma fase que foi boa, difícil em alguns momentos, mas necessária. E ai você percebe que as partes difíceis e os erros e cicatrizes são aprendizados, marcas que ensinam, e que mesmo os bons momentos muitas vezes não podem ser revividos, mas sim guardados como boas lembranças.
Há um longo caminho a frente. Olhar na direção dele, caminhar para o que virá, encarar a mudança como uma coisa boa é o melhor que temos a fazer. Se desapegar de um passado que, mesmo bom e repleto de boas lembranças, já cumpriu a sua missão, só nos prende e nos impede de enxergar tudo de bom que a vida nos oferece hoje.
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa).
segunda-feira, 9 de abril de 2012
As músicas da sua vida
Estar presente num show de uma banda que você gosta muito é algo único, principalmente se você é viciado em música e faz dela parte da sua vida. A sensação de estar ali presente, cantando os sons que você cansou de ouvir quando estava triste, feliz, dirigindo ou com aquela pessoa especial é única.
Não importa se é um festival mainstream como o Lollapalooza, o Rock in Rio ou se é um bar com 10 pessoas que colaram no som. Tudo depende do que te motiva a ir até lá, cantar feito um doido, conhecer pessoas que estão ali pelo mesmo motivo que você.
Tenho umas cinco ou seis bandas que significam muito pra mim, caras que eu escuto há coisa de 10 anos ou mais. O Foo Fighters é uma dessas bandas.
O FF pode ser dividido em duas fases: até o terceiro disco, There is Nothing Left to Lose, era apenas uma banda promissora. Tanto que tocou no Rock in Rio 3, em 2001, como uma atração secundária. Após esse disco, Dave Grohl e companhia ganharam o status de super banda, emplacando durante os últimos 10 anos discos de sucesso e hits como Times Like These, All My Life, Best of You,Walk, Wheels. Assim, também é normal que os fãs da banda sejam divididos entre essas duas fases.
Mas, deixando de lado a chata discussão de "fã velho" x "fã antigo", estar num show que você esperou anos para colar é algo único. A cada som, um pedaço da sua vida passa pela sua cabeça. Durante aquelas horas, você relembra histórias, lembra de trechos que talvez tenham ajudado a mudar a sua história, a tomar uma decisão difícil, pequenos versos que dizem o que você não conseguiria em mil palavras.
Eu cresci ouvindo Foo Fighters, e foi assim que me senti no show deles. Tenho os 3 primeiros cds. Cd mesmo, aquela coisa redonda e espelhada que hoje está tão ultrapassada. Ganhei quando era moleque, entre o final dos anos 90 e o início desse século e guardo até hoje com carinho aqui.
Particularmente, fiquei sem reação quando rolou Hey Johnny Park!, um som um tanto quanto desconhecido deles perto de outros mega hits da banda, e que raramente entra no set list. Um som que significa muito pra mim. Não esperava, cantei a plenos pulmões, como já fiz tantas outras vezes nos últimos anos, sozinho no meu quarto ou dirigindo de volta pra casa numa noite gelada.
Não sou fã de festivais como o Lollapalooza. O preço é alto, a organização e logística nem sempre são bem planejadas e o fã que ama música e as bandas que vão tocar acaba tendo que pagar uma conta injusta. Quase R$ 10 numa cerveja quente e num hambúrguer industrializado ou R$ 100 numa corrida de táxi que normalmente custaria, sei lá, R$ 30.
Ok, o fã fará isso com um sorriso no rosto, afinal, ele está ali realizando um sonho. Mas que não deveria ser assim, isso não deveria.
Vi muitas discussões sobre isso nos últimos dias. Sobre o lance de pagar R$ 300 num mega evento e não pagar R$ 10 para ver uma banda iniciante. Concordo que apoiar a cena local da sua cidade e incentivar bandas que estão começando é super importante, mas também não vejo crime em colar num Lollapalooza da vida, se a banda que significa muito pra você for tocar lá.
Fiquei em êxtase no show do Foo Fighters como já fiquei em shows de outras bandas que me dizem muito onde tinham até menos de 10 pessoas na plateia.
De novo: acho que tudo depende do que te motiva a sair de casa e ir enfrentar a multidão no festival mainstream ou uma noite fria com uns trocados no bolso para ver uma banda num PUB distante: o motivo é paixão, é estar ali, olhar pra banda e pensar "esses caras me influenciaram pra caralho", e não simplesmente colar no rolê por que ele está na mídia e por que "todo mundo vai, então eu tenho que ir também".
Sempre vai ter em algum canto alguém cantando aqueles versos que marcaram a sua vida em algum momento. Apenas vá até lá e curta tudo o que puder.
Não importa se é um festival mainstream como o Lollapalooza, o Rock in Rio ou se é um bar com 10 pessoas que colaram no som. Tudo depende do que te motiva a ir até lá, cantar feito um doido, conhecer pessoas que estão ali pelo mesmo motivo que você.
Tenho umas cinco ou seis bandas que significam muito pra mim, caras que eu escuto há coisa de 10 anos ou mais. O Foo Fighters é uma dessas bandas.
O FF pode ser dividido em duas fases: até o terceiro disco, There is Nothing Left to Lose, era apenas uma banda promissora. Tanto que tocou no Rock in Rio 3, em 2001, como uma atração secundária. Após esse disco, Dave Grohl e companhia ganharam o status de super banda, emplacando durante os últimos 10 anos discos de sucesso e hits como Times Like These, All My Life, Best of You,Walk, Wheels. Assim, também é normal que os fãs da banda sejam divididos entre essas duas fases.
Mas, deixando de lado a chata discussão de "fã velho" x "fã antigo", estar num show que você esperou anos para colar é algo único. A cada som, um pedaço da sua vida passa pela sua cabeça. Durante aquelas horas, você relembra histórias, lembra de trechos que talvez tenham ajudado a mudar a sua história, a tomar uma decisão difícil, pequenos versos que dizem o que você não conseguiria em mil palavras.
Eu cresci ouvindo Foo Fighters, e foi assim que me senti no show deles. Tenho os 3 primeiros cds. Cd mesmo, aquela coisa redonda e espelhada que hoje está tão ultrapassada. Ganhei quando era moleque, entre o final dos anos 90 e o início desse século e guardo até hoje com carinho aqui.
Particularmente, fiquei sem reação quando rolou Hey Johnny Park!, um som um tanto quanto desconhecido deles perto de outros mega hits da banda, e que raramente entra no set list. Um som que significa muito pra mim. Não esperava, cantei a plenos pulmões, como já fiz tantas outras vezes nos últimos anos, sozinho no meu quarto ou dirigindo de volta pra casa numa noite gelada.
Não sou fã de festivais como o Lollapalooza. O preço é alto, a organização e logística nem sempre são bem planejadas e o fã que ama música e as bandas que vão tocar acaba tendo que pagar uma conta injusta. Quase R$ 10 numa cerveja quente e num hambúrguer industrializado ou R$ 100 numa corrida de táxi que normalmente custaria, sei lá, R$ 30.
Ok, o fã fará isso com um sorriso no rosto, afinal, ele está ali realizando um sonho. Mas que não deveria ser assim, isso não deveria.
Vi muitas discussões sobre isso nos últimos dias. Sobre o lance de pagar R$ 300 num mega evento e não pagar R$ 10 para ver uma banda iniciante. Concordo que apoiar a cena local da sua cidade e incentivar bandas que estão começando é super importante, mas também não vejo crime em colar num Lollapalooza da vida, se a banda que significa muito pra você for tocar lá.
Fiquei em êxtase no show do Foo Fighters como já fiquei em shows de outras bandas que me dizem muito onde tinham até menos de 10 pessoas na plateia.
De novo: acho que tudo depende do que te motiva a sair de casa e ir enfrentar a multidão no festival mainstream ou uma noite fria com uns trocados no bolso para ver uma banda num PUB distante: o motivo é paixão, é estar ali, olhar pra banda e pensar "esses caras me influenciaram pra caralho", e não simplesmente colar no rolê por que ele está na mídia e por que "todo mundo vai, então eu tenho que ir também".
Sempre vai ter em algum canto alguém cantando aqueles versos que marcaram a sua vida em algum momento. Apenas vá até lá e curta tudo o que puder.
terça-feira, 3 de abril de 2012
O moleque que bate bola sozinho com a parede
Em cada rua de bairros mundo afora é possível ver um moleque jogando bola. Normalmente sozinho, batendo bola com a parede, solitário, mas ainda sim feliz, se divertindo num mundo só dele.
Todos nós já fomos esse moleque um dia, nos contentávamos com coisas simples. Não era preciso muito para ser feliz, afinal.
Ele não passa o dia reclamando da sua vida, reclamando do seu emprego, da sua família, dos seus amigos, da falta de grana, da falta de sorte. Ele também não se preocupa em fingir ser quem não é só para fazer tipo.
Reclamar da vida, mesmo que ela não seja tão ruim assim, virou um hábito. Se você tiver um celular, vai reclamar por que quer um smatphone. Se você tiver um 1.0, vai reclamar que quer um carro mais potente. E assim vai. Esquecemos de dar valor ao que realmente temos, às pequenas coisas que podem não parecer muito, mas são fundamentais.
Resta pouco, ou quase nada, do moleque que bate bola sozinho com a parede dentro de nós.
Todos nós já fomos esse moleque um dia, nos contentávamos com coisas simples. Não era preciso muito para ser feliz, afinal.
O moleque que bate bola sozinho com a parede é assim. Ali ele é o Cristiano Ronaldo, o Messi, o Kaká, quem ele quiser. Não há quem diga a ele para bater na bola de bico ou de chapa. Para fazer assim ou assado.
O moleque que bate bola sozinho com a parede não sofre cobranças, nem tem tantas responsabilidades. Não precisa correr para cumprir prazos, promessas, metas. Ele não se preocupa com status, em mentir ou em desdenhar e pisar nos outros para ter destaque ou conseguir o que quer.
O moleque que bate bola sozinho com a parede não reclama que precisa de uma casa maior, um carro mais veloz, um iPad, um iPhone, um Playstation 3, um computador de última geração, um som potente.Ele não passa o dia reclamando da sua vida, reclamando do seu emprego, da sua família, dos seus amigos, da falta de grana, da falta de sorte. Ele também não se preocupa em fingir ser quem não é só para fazer tipo.
Reclamar da vida, mesmo que ela não seja tão ruim assim, virou um hábito. Se você tiver um celular, vai reclamar por que quer um smatphone. Se você tiver um 1.0, vai reclamar que quer um carro mais potente. E assim vai. Esquecemos de dar valor ao que realmente temos, às pequenas coisas que podem não parecer muito, mas são fundamentais.
Resta pouco, ou quase nada, do moleque que bate bola sozinho com a parede dentro de nós.
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