Quem frequenta estádios de futebol em jogos de divisões menores está acostumado a se deparar com muitos personagens folclóricos. Seja o ambulante que tem uma maneira peculiar de vender, ou os torcedores símbolos que também torcem de uma maneira a parte. Mas essas ocasiões reservam também cenas e personagens tocantes e marcantes.
Eu frequento jogos da série B do futebol brasileiro há um tempo razoável, e esse ano não foi fácil neste sentido. O Bragantino, time da minha cidade, se manteve na segunda divisão na marra, se garantindo só na última rodada. Para a maioria das pessoas - mesmo as que gostam de futebol, isso não é um fato lá muito importante.
No decorrer da campanha, quando o time estava 12 pontos atrás da última equipe fora a zona de rebaixamento para a série C, apenas alguns doidos varridos se aventuravam a ir ao estádio enfrentar chuva e baixas temperaturas para ver um time esfacelado em campo.
Quem se dispõe a fazer isso é movido por uma paixão que é difícil de explicar, é algo que beira a irracionalidade. É diferente de torcer para um dos times grandes. Quem acompanha - e torce - para times menores, se envolve de uma maneira diferente, cria uma relação mais pessoal com a agremiação.
Num desses jogos, me deparei com um senhorzinho solitário torcendo. Era uma terça-feira a noite, depois das 22hs, não havia nem mil pessoas no estádio. O senhorzinho tinha um olhar triste e solitário. A impressão que me deu é que tratava-se de alguém sem muitos amigos, familiares ou atividades. Alguém que leva uma vida simples, que levava no semblante uma dose de melancolia.
O senhorzinho torcia, solitário. Gritava os nomes dos jogadores com grande esforço, tentava se fazer ouvir em vão. Como todos nós ali torceu, sofreu e xingou. Fim de jogo e ele saiu caminhando, ainda solitário, mas agora com um sorriso no rosto. No jogo que confirmou a permanência do Bragantino na série B ele estava novamente do meu lado, tomando chuva. No apito final todos nós, conhecidos e desconhecidos, nos abraçamos e comemoramos.
O que que quero dizer é que o futebol, ás vezes, é a única válvula de espace para algumas pessoas. O senhorzinho talvez não tenha muitos parentes ou amigos, talvez não saia muito de casa e a impressão que me deu é que o fato de ir ao estádio acompanhar o time da cidade é algo sagrado para ele, algo que o faça sentir vivo, algo em que ele possa colocar a sua emoção, seus pensamentos positivos.
Há uma dose de tristeza e melancolia nisso, mas é uma bela cena que só o futebol é capaz de proporcionar. Isso me lembrou este vídeo abaixo. Nele, um senhor espanhol se emociona com o gol do Málaga que também garantiu o time na primeira divisão espanhola. O gol foi contra o todo poderoso e bilionário Real Madrid. O abraço sincero no menino mostra o alívio, a felicidade, a emoção, a paixão.
Repito: para a maioria das pessoas, mesmo algumas que gostam de futebol, não é nada demais. Amanhã elas acordam e seguem suas vidas normalmente.
Para os dois senhorzinhos acima é tudo: é motivo de alegria, não só por ver o time que amam resistindo a duras penas numa época onde os clubes pequenos são esmagados, mas principalmente por se sentirem parte de algo, por terem um motivo para sorrir e por se sentirem vivos num mundo que parece já ter se esquecido deles há algum tempo.
domingo, 25 de novembro de 2012
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